Fora do Ar



                  FORA DO AR   

Hoje o Amor me maltratou, me ofendeu, me humilhou. 
Hoje, o Amor me cuspiu, me pisou, me arranhou, me depredor.
Hoje o amor me machucou, me açoitou lá no fundo, nas entranhas, nos nervos da alma!
Rasgou minhas roupas, meus livros, minha identidade, meu nome.
Me deixou nu como a muito tempo não ficava.

Hoje,
Lambi o chão, os sapatos, a poeira do meu pequeno e  inútil mundo.
O Amor levou tudo o que eu tinha.
Minha vergonha, meu orgulho, minha vaidade, minha bondade, pureza, minha alegria e meu sorriso.
Fiquei órfão da única coisa que fazia algum sentido!

Chorei,
chorei intensamente.
Lamentei pela eternidade ter amado esse Amor.
Lamentei ter permitido que ele me amase, me apalpace com seu doce querer.
Lamentei te-lo abrigado dentro de mim.

Me revoltei, me escandalizei, gritei.
Mas uma vez Ele me desprezou com um olhar lânguido, indestrutível.
Fui seu capacho, seu servo bicho de estimação.
Fui seu trapo, seu brinquedo,
um infeliz querendo brincar de amar.

Sim,
eu sou um idiota sentimental de merda!
Eu sou um covarde, patético tirano
tentando ser o Amor.

Mas que infame contradição é essa!
Ele me despreza, me humilha,
mas ainda sim eu O amo.
Ele entra em minha casa, rouba meus sonhos
e eu ainda O quero, O venero, O idolatro!

Realmente
é puro masoquismo de amar.

Ele levou as minhas forças.
Meus músculos tremulos, não respondiam.
Meu corpo esgotado, arruinado, largou-se ao chão.
Apenas um distante olhar ainda respondia.

Mas uma vez, Ele veio até mim.
Com uma mansidão assombrosa,
reclinou-se sobre meu corpo, consumindo-me.
Chorei de Amor.
Porque na quele instante,
eu não era mais o Amor e o Amor não era mais eu.
Fomos imensidão,
oceano, eternidade.

Descobri a razão de tudo. 
O sabor das manhãs, o som do sorriso da alegria,
e até a melancolia dos pássaros.
Pedi perdão e Ele fechou os olhos para mim mesmo.
Pedi de novo e não tive mais resposta.

Então,
como um entardecer, silenciei também
e juntos nos amamos para sempre.

Enfim,
descobri
que nunca mais seria só.
Porque o Amor veio morar em mim
para sempre.

Amém.

W. Barros

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